jueves, 26 de octubre de 2017

José Dirceu e o nacionalismo

Não estou de acordo com a abordagem feita no texto de José Dirceu sobre o nacionalismo (ver tal texto ao final, em vermelho).

Obviamente concordo em criticar o “nacionalismo” das elites.

Assim como concordo em criticar o “globalismo”, que na verdade expressa os interesses do nacionalismo das grandes potências.

Onde divirjo?

Acho um erro contrapor, ao “globalismo” e ao “nacionalismo” das elites, um nacionalismo “genérico”.

Mais adiante explicarei porque considero “genérico” o nacionalismo defendido por Dirceu.

Mas antecipo que não é por acaso que ele termina dando como exemplos o Curdistão, a Catalunha, a Escócia.

Casos profundamente distintos do tipo de “nacionalismo” que precisamos ter no Brasil.

Dirceu afirma que “no fundo, o substrato de toda a fundamentação, há décadas da avalanche da globalização, está no bordão do fim. Não da história, mas do conceito de nação e de sua própria existência, pelo menos como ente estatal, já que seria muita pretensão desconhecer as nações”.

Não concordo com esta afirmação. Ela confunde um discurso proposto para exportação com a prática real.

A classe dominante dos EUA — para ficar nesse exemplo — nunca enfraqueceu o seu Estado. Seu discurso criticava e propunha o enfraquecimento dos estados e das nações ... dos concorrentes.

Portanto, o “substrato” real do discurso da globalização era a ampliação ao limite máximo da hegemonia das nações capitalistas centrais.

Também não concordo com a afirmação de que nossas elites “nunca ... – a não ser para usurpar o poder – conviveram ou aderiram ao nacionalismo”.

Primeiro, não faz sentido falar que nossas elites precisavam fazer algo para “usurpar o poder”.

Usurpar o poder de quem???? Elas nunca o perderam, porque deveriam usurpá-lo??

Segundo, é simplesmente falso — historicamente falando, factualmente falando— que nossas elites nunca “conviveram ou aderiram” ao nacionalismo.

A afirmação só faria sentido se por “nacionalismo” compreendêssemos apenas um nacionalismo popular.

Mas nosso tipo de nacionalismo não é o único que existe. Assim como nossa visão sobre democracia não é a única que existe.

É provável que Dirceu tenha querido dizer que o “nacionalismo” hegemônico nas elites econômicas, culturais e políticas era e segue sendo submisso ao interesse dos imperialismos; e, além disso, talvez tenha querido dizer que o “nacionalismo” das elites não considerava nem considera os interesses do conjunto do povo.

Qual a diferença?

Simples: na “fórmula” desenvolvida no parágrafo anterior a abordagem deixa de ser “nacionalistas” versus “não nacionalistas”; a equação passa a incluir imperialismo, capitalismo e luta de classes; e reconhece de maneira adequada existirem diferenças no interior das elites.

Dirceu diz que as “elites” foram “sempre inimigas mortais dos governos dito nacionalistas, seja Getúlio, JK, Jânio com sua política externa independente, Jango e, pasmem, Geisel.”

Realmente, pasmem. Pois Getúlio, JK, Jânio, Jango e Geisel eram parte das elites. E em determinado momento expressaram um setor politicamente hegemônico nas elites.

Dizer que “as elites” eram “inimigas mortais” de todos estes, é não apenas falso, como pode gerar a conclusão politicamente equivocada de que inimigo de meu inimigo é meu amigo.

Dirceu está tão entusiasmado que chega a afirmar que “o sentimento nacionalista” guia “nossa construção nacional, nossa aventura de construir, nos trópicos, uma civilização”.

Perdão, mas não foi o “sentimento nacionalista” que “guiou” o desenvolvimento da sociedade brasileira. E a “aventura” dos “homens de grossa aventura” — a elite da época colonial— incluía tráfico de escravos, destruição dos povos indígenas etc.

A defesa de um nacionalismo popular precisa “extrair sua poesia do futuro”, não repetir má poesia ao estilo de “porque me ufano de meu país”.

E o que diz Dirceu do futuro? Diz que precisamos impor, defender ou construir “uma força política, econômica, cultural e militar, que também molde e organize o poder mundial”.

E em seguida faz digressões sobre o pensamento militar.

Noutro texto pretendo comentar mais extensamente a opinião de Dirceu sobre a “questão militar”.

Mas de imediato acho incorreta a maneira como ele relaciona a vertente do pensamento militar nacionalista com a criação da Petrobras, Eletrobrás, Telebrás, BNDES etc.

Claro que havia diferentes vertentes entre os militares. Mas não havia apenas entreguistas e nacionalistas. Havia esquerda, democratas e fascistas. Portanto, havia fascistas & nacionalistas & estatistas; assim como havia fascistas & entreguistas.

Simplificar, resumindo a equação a nacionalistas versus entreguistas, é o que conduziu recentemente setores da esquerda nacionalista a cogitar a existência de aspectos positivos numa eventual intervenção militar.

Além disso, é preciso identificar corretamente as diferentes conexões existentes entre os militares, o empresariado capitalista nacional e internacional, e os interesses do imperialismo.

Por exemplo: o fracasso do “projeto nacional autoritário e conservador” dos militares ocorreu porque ele era “sem inclusão do povo”?? Ou porque este “projeto” já não atendia aos interesses do capital??

As elites e seus projetos não fracassam ou vencem porque incluam ou não incluam o povo.

As elites “incluem” o povo através da opressão, da exploração, da dominação.

Os êxitos e fracassos das “elites” dependem de como se combinam, a cada momento, a competição inter-capitalista e a resistência popular.

Por isso é falso dizer que “nenhuma política de crescimento econômico numa nação continental como a nossa (...) terá sucesso se não se afirmar como nacional e a partir dos interesses do povo e não apenas da elite econômica e política”.

Pois “sucesso” para as elites pode significar e geralmente significa ir contra os interesses do povo.

Portanto, a questão é outra: uma política de desenvolvimento precisa ser feita em benefício das elites ou em benefício da maioria do povo. E a “perigosa ilusão” que sempre ameaça à esquerda brasileira é achar possível construir um caminho baseado na conciliação de classe.

Deste ponto de vista, sigo aguardando de Dirceu uma autocrítica acerca da estratégia que ele ajudou a construir. E que explica parte de nossa derrota recente.

No lugar disso, neste texto Dirceu reitera uma das premissas da análise de classes que está na base da estratégia adotada pelo PT a partir de 1995.

Refiro-me ao seguinte raciocínio: “grande parte da elite – inclusive a industrial, na ânsia de retomar o controle total sobre o poder – se submete ao capital financeiro e principalmente aos donos da informação e da formação da notícia e da opinião pública.”

A verdade é outra. Eles não precisam retomar o pode: nunca o perderam. E a hegemonia do capital financeiro instalou-se nos anos 1990. Portanto, equivoca-se agora e equivocou-se antes quem enxergava uma postura autônoma na “elite industrial”.

A questão portanto não está em que “não é possível – e nunca será – fazer com que 200 milhões de brasileiros alcancem o bem-estar social e cultural numa economia agro mineral exportadora, submetida às finanças internacionais e aos interesses da banca mundial, tendo eles mesmos – a nossa elite – como sócios menores”.

A questão é outra: estes 200 milhões não terão bem estar, nem poder político, enquanto o Brasil for um país capitalista. E não haverá “soberania” de tipo nacional- popular enquanto o Brasil for um país capitalista.

Por isso não basta exaltar a “memória nacionalista”. Por isso é preciso colocar o socialismo como alternativa. Por isso a Escócia, o Curdistão e a Catalunha são parte de outro debate. E por isso nossa defesa da soberania nacional precisa estar combinada com a defesa da integração regional, tema que salvo engano não é mencionado no texto aqui criticado.

Pós-escrito

Cinco comentários adicionais, feitos com base em opiniões que me foram dadas após a leitura do texto acima.

Primeiro: para usar um vocabulário antigo, o que estamos debatendo aqui são as "tarefas". As tarefas definem de forma sintética aquilo que o programa define de maneira detalhada.

Segundo: há um acordo em que as tarefas são três: democráticas, nacionais e sociais. A polêmica está em como combinar as tarefas. Na minha opinião e também na opinião de Dirceu, não dá para colocar em segundo plano, nem dá para tratar superficialmente, as tarefas sociais. A diferença está no seguinte: qual a radicalidade das tarefas sociais? Na minha opinião, a radicalidade deve ser a maior possível, nas atuais condições históricas. A saber: colocar sob controle estatal, público, social, o pólo dinâmico da economia. Por exemplo: o setor financeiro. O nome disto? Socialismo.

Terceiro: por qual motivo é assim? Pelo mesmo motivo que Cuba, Vietnã, China e Rússia precisaram do socialismo para conseguir níveis de soberania, democracia e bem-estar social que em outros países foram compatíveis com o capitalismo. A saber: o nosso lugar no capitalismo mundial. Lugar que, na literatura especializada, recebeu vários nomes: dependente, tardio, subalterno, periférico etc.

Quarto: a definição das tarefas/programa se articula com outra discussão, a da estratégia. Ou seja, como construir/conquistar o poder necessário para implementar o programa. Acerca disso, o texto de Dirceu não fala --nem precisaria obrigatoriamente falar, já que seu artigo versa sobre o nacionalismo -- exceto de maneira indireta, na passagem que critico acerca das classes sociais; e exceto, também, por seu silêncio acerca da integração regional.

Quinto: o tema da integração é onde a abordagem "genérica" sobre o nacionalismo revela sua debilidade. Pois a chance de viabilizar a soberania nacional, o bem estar social e a democratização profunda de um país como o Brasil exige um programa (e uma estratégia) de integração regional.

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Segue o texto do Dirceu:


Estaria o nacionalismo condenado e viveríamos um mundo sem fronteiras nacionais, regido pela globalização, pela abertura dos mercados – principalmente financeiros – a caminho de um governo mundial?

Pode parecer piada de mau gosto, mas, no fundo, o substrato de toda a fundamentação, há décadas da avalanche da globalização, está no bordão do fim. Não da história, mas do conceito de nação e de sua própria existência, pelo menos como ente estatal, já que seria muita pretensão desconhecer as nações. Seria como se voltássemos e regredíssemos à Idade Média.

No nosso caso, nunca nossas elites – a não ser para usurpar o poder – conviveram ou aderiram ao nacionalismo. E, muito menos, à nação. Só o fazem para exercer ou tentar a hegemonia cultural, impondo sua visão do que seja a nação, sempre a partir de seus interesses e visão do mundo. Sempre foram inimigas mortais dos governos dito nacionalistas, seja Getúlio, JK, Jânio com sua política externa independente, Jango e, pasmem, Geisel.

Mas nunca conseguiram apagar da memória nacional o sentimento nacionalista, que guia nossa construção nacional, nossa aventura de construir, nos trópicos, uma civilização.

Fizeram de tudo, até mesmo negar que tínhamos condições históricas, humanas e culturais de nos tornarmos uma nação. Foi com muita luta política, social e cultural que, década após década, construímos o sentimento que hoje, de novo, se impôs como um fato histórico indiscutível e indestrutível: somos uma nação soberana e independente, somos uma cultura, um povo com presença no mundo. Somos assim reconhecidos.

Mas não basta. Uma nação só se caracteriza quando impõe, defende ou constrói poderes para defender seus interesses e fazer parte do mundo, não apenas como membro do concerto das nações, mas como uma força política, econômica, cultural e militar, que também molda e organiza o poder mundial.

O pensamento militar nunca foi único ou consolidado na nossa história. Pelo contrário, até 64 debatia-se entre visões entreguistas e nacionalistas. Sob a ótica entreguista, vamos recordar que, durante quase meio século, nossas elites rurais e seus porta-vozes na imprensa e na política defendiam que o Brasil jamais se industrializaria e não seria uma potência. Estávamos “destinados” a ser um país agrário-exportador, cópia cultural da Europa. Hoje, cópia dos Estados Unidos e igualmente exportador – de minerais, energia, alimentos. Nada muito diferente do passado.

A vertente nacionalista nos deu condições para a criação da Petrobras, Eletrobrás, Telebrás, BNDES, que são as bases do Brasil que existe hoje.

Não foi por nada, ou apenas por Geisel, que o estamento militar e interesses empresariais construíram o II Plano Nacional de Desenvolvimento, que consolidou nossa indústria de base, a ciência e a tecnologia – temas indispensáveis para se falar em desenvolvimento nacional. Era um imperativo, inclusive, para a sobrevivência da ditadura militar e de seu projeto nacional autoritário e conservador. Sem inclusão do povo e, por isso, fracassado.

Sem o povo não há nação e sem a nação não há Brasil e sua presença no mundo. Nenhuma política de crescimento econômico numa nação continental como a nossa, com mais de duzentos milhões de habitantes, com os recursos e as riquezas naturais que temos e nosso nível de desenvolvimento tecnológico, terá sucesso se não se afirmar como nacional e a partir dos interesses do povo e não apenas da elite econômica e política.

O povo trabalhador se constitui em sujeito, ator da história do país e isso acontece de formas e maneiras totalmente diversas, personificando seus interesses e sonhos em ideias, forças, lideranças, partidos, movimentos, revoltas ou rebeliões. É por isso que se trata de uma perigosa ilusão qualquer tentativa de fazer uma nação sem o povo. Não há caminho para construir poderes nacionais, sejam eles políticos, econômicos, culturais ou militares, sem o povo.

Mesmo uma força militar, sem o apoio popular, não tem sobrevida estratégica no longo prazo. Acaba desaguando em algum conflito militar, como a história nos ensina.

Apesar de todas as evidências do caminho errado, voltamos ao passado e, mais uma vez, querem porque querem descontinuar a nação. Sob o silêncio cúmplice ou imposto, os militares se calam, como manda a Constituição.

Grande parte da elite – inclusive a industrial, na ânsia de retomar o controle total sobre o poder – se submete ao capital financeiro e principalmente aos donos da informação e da formação da notícia e da opinião pública.

Os usurpadores do poder usam e abusam do poder judicial/policial, rasgam o pacto político e social de 1988 e voltam a pregar abertamente a entrega do país a preços vis ao capital internacional, cujas premissas de atuação foram extremamente nocivas a muitos países, como mostra a última crise global de 2008-2009.

Para eles, o Brasil não tem saída a não ser se integrar no mundo norte-americano, sob sua hegemonia – inclusive a cultural. Não bastasse a já nefasta dominação que exercem sobre o país via monopólio da informação, agora tentam partidarizar a educação com suas ideias e conceitos sobre a vida e a nação.

Irresponsáveis e ignorantes das lições da história, acreditam que podem, a partir da força e do controle da informação, dominar o povo brasileiro, seu destino e futuro como nação. Não cabe em seu projeto de poder e de país um povo como o brasileiro.

Estão profundamente enganados. Tal pensamento e desejo são uma vã ilusão, que logo lhes custará caro. Porque não é possível – e nunca será – fazer com que 200 milhões de brasileiros alcancem o bem-estar social e cultural numa economia agro mineral exportadora, submetida às finanças internacionais e aos interesses da banca mundial, tendo eles mesmos – a nossa elite – como sócios menores.

A minoria rica – menos de 1% da população – e os 10% dos que participam de seu banquete acreditam que podem iludir o povo brasileiro e sua classe trabalhadora.

Nada aprenderam com a história e não se dão conta que a memória nacionalista está mais viva do que nunca e retomará o protagonismo de sempre na busca de justiça social e liberdade.

Estão aí a Escócia, o Curdistão e a Catalunha a provarem quão presente é o nacionalismo quando a opressão e a tirania se impõem sobre um povo, colocando em risco sua identidade nacional, sua cultura, língua, riquezas, patrimônio e seu bem-estar social. Nada, nenhuma força no mundo consegue oprimir e dominar um povo em busca de sua nação e de seu destino.

José Dirceu de Oliveira e Silva
Ex-ministro chefe da casa civil

jueves, 19 de octubre de 2017

El pensamiento político del Che. Dedicó sus 39 años de vida a su formación intelectual. El marxismo, la filosofía y la psicología fueron sus grandes temas de estudio.



Por Fernando Amato. La imagen de uno de los líderes de la Revolución Cubana es tan potente que se convirtió en el símbolo de la rebelión en el mundo. Pero el Che estaba muy lejos de ser un hippie con barba entrecrecida que se volvió guerrillero recorriendo Latinoamérica. Esa figura de hombre de acción, de combatiente heroico, terminó atentando contra la riqueza intelectual del propio Guevara. Hoy su cara está en todas las remeras pero su pensamiento y sus libros y escritos no se han vuelto tan populares. Y una de las grandes cualidades de Guevara fue poner en juego su formación intelectual contrastándola con la vida real. No era simplemente un idealista, era un hombre de ideas. Cuando Ernesto Guevara comenzó a viajar ya tenía una sólida formación intelectual. Ya era un cuadro marxista-leninista. Amante de los diarios personales, supo dejarnos el legado de su formación como intelectual en seis cuadernos a los que llamó Apuntes (o Diccionario) filosóficos, en los que encontramos la evolución ideológica de aquel joven Guevara. Miembro de una familia de extracción liberal que influyó en su formación, tuvo una precoz avidez por la lectura. Cuando los Guevara vivieron en Córdoba tenían de vecino a Deodoro Roca, un marxista que había redactado el manifiesto de la Reforma Universitaria de 1918 y, al hacerse amigo de su hijo, el joven Ernesto accede a su biblioteca y a sus primeras lecturas marxistas. “A los 14 años leía a Freud, se enamoró también de la poesía de Charles Baudelaire (…) leyó a [Alexandre] Dumas padre, a [Paul] Verlaine y a [Stéphane] Mallarmé en su lengua original. Posteriormente, bajo la influencia de los republicanos exiliados, se volvería hacia Federico García Lorca y Antonio Machado (…) También se aficionó al poeta chileno Pablo Neruda”, recordaba Alberto Granados en un reportaje en el diario cubano Granma, en 1967. De los seis cuadernos de sus Apuntes filosóficos se recuperaron cinco, que contienen 1.265 páginas foliadas por él. Casi como en un recorrido histórico, comenzó con la concepción filosófica de los pensadores griegos, como Platón y Aristóteles, para seguir luego con los orientales, como Buda y Confucio. Dos libros fueron fundamentales en esa formación: Breve historia del mundo, de H. G. Wells, y La historia de la filosofía, de Jaime Luciano Balmes. Si bien comienza con sus primeras lecturas de El capital, de Karl Marx, el otro gran tema de ese primer cuaderno es la psicología. Guevara lee Teoría general de la neurosis, de Freud, y Vieja y nueva moral sexual, de Bertrand Russell, intrigado por los conceptos de angustia, sueño e histeria. En el segundo cuaderno profundiza sobre la filosofía china pero también se anima a los persas y egipcios. Luego sigue con la filosofía política inglesa de los siglos XVII y XVIII, donde estudia sobre los conceptos vida, justicia, deber, bondad, ética, libertad, patriotismo en Thomas Hobbes, John Milton y David Hume. El cuaderno tres está dedicado a la lectura de Karl Marx. Pero también aborda al marxismo desde Mi lucha, de Adolf Hitler, y desde la óptica de Josep Stalin y Lenin. Pero es en El comunismo y los cristianos, de H. P. Ducatillon, que aparece un concepto que será fundamental en el ideario guevarista: el humanismo marxista. Algunos de los pensamientos que Guevara apunta en este cuaderno son: “El comunismo es, además de una doctrina, un fenómeno de pasión”, “El capital de Marx fue para el comunismo un poco lo que la Suma teológica de Santo Tomás de Aquino fue para el pensamiento cristiano”, “La doctrina filosófica y la doctrina económica están en el comunismo estrechamente ligadas”, “Es imposible ser comunista socialmente, sin serlo filosóficamente”, “La doctrina comunista tiene la característica de estar indisolublemente unida a la práctica de la vida”. En los dos últimos cuadernos recuperados continúa estudiando filosofía con Juan Herssen, Locke y, sobre todo, con Crepúsculo de los ídolos, de Friedrich Nietzsche, y Crítica de la razón pura, de Inmanuel Kant. En síntesis, realizó un profundo estudio de la filosofía en general y del marxismo en particular haciendo una especial conexión entre el humanismo y el marxismo, y profundizó en la definición del socialismo destacando su carácter materialista y el papel que le otorga a la economía. Cuando el joven Ernesto inicia sus viajes (por doce provincias argentinas en 1950 y por Latinoamérica en sus dos travesías entre 1951 y 1955), además de continuar su evolución ideológica, encuentra la oportunidad de observar en la práctica la forma de constatar lo que leía. Le escribe a su tía Beatriz, en diciembre de 1953: “Tuve la oportunidad de pasar por los dominios de la United Fruit, convenciéndome una vez más de lo terrible que son estos pulpos capitalistas”. Así se fue formando su ideario político latinoamericanista y antiimperialista al constatar el poderío estadounidense y la explotación de los pueblos latinoamericanos. Al llegar a México, en septiembre de 1954, profundiza sus estudios de marxismo y relee El capital y avanza con El Estado y la revolución, de Lenin. Cuando toman el poder en Cuba lee los Manuscritos económicos y filosóficos de Marx, donde habla de la enajenación y, durante un año, junto a Fidel Castro y al profesor soviético- español Anastasio Mansilla, estudian otra vez El capital.
GUEVARISMO
Su pensamiento de base marxista contenía reflexiones sobre la forma de realizar una revolución y crear una sociedad socialista que le dieron identidad propia. Una de las características fundamentales del pensamiento guevarista (más allá de su antiimperialismo, su latinoamericanismo y su humanismo marxista) fue su antidogmatismo. Supo discutir al propio Marx en El socialismo y el hombre en Cuba (1965) y al sistema económico impuesto por el Partido Comunista ruso, en Apuntes críticos a la economía política (también de 1965 pero inédito hasta 2006).
En el primero discute aspectos centrales de la toma del poder, desarrolla su teoría de las condiciones objetivas y subjetivas para lograrlo y debate el determinismo materialista de Marx. También allí insiste sobre el concepto de humanismo marxista. “El socialismo económico sin la moral comunista no me interesa. Luchamos contra la miseria y al mismo tiempo contra la alienación (…) si el comunismo descuida los hechos de conciencia puede ser un método de repartición, pero deja de ser una moral revolucionaria”, dijo en una entrevista a Jean Daniel del Express, en Argel, en julio de 1963. “Nuestra tesis es que los cambios producidos a raíz de la Nueva Política Económica (NEP) han calado tan hondo en la vida de la Urss que han marcado con su signo toda esta etapa. Y sus resultados son desalentadores (…) Se está regresando al capitalismo”, escribía Guevara en Apuntes… y continuaba: “Una economía en transición al socialismo tiene que planificar la economía violentando los mecanismos de la ley del valor, incentivando de manera principalmente moral a los trabajadores, a largo plazo tenemos que priorizar los incentivos morales porque tanto al violentar los mecanismos mercantiles, como el priorizar los incentivos morales, como el priorizar la planificación, tienen por objeto construir conciencia socialista (…) La Unión Soviética por más que tenga cohetes nucleares y un ejército rojo, a pesar de todo eso, va a volver al capitalismo porque ha dejado vivo al monstruo, a la mercancía”. Guevara diferenciaba entre el hombre trabajador como mercancía y resaltaba el deber social del trabajo, por eso era un gran defensor del trabajo voluntario. También sostenía el Sistema Presupuestario de Financiamiento en el que proponía la eliminación del mercado para el manejo de la economía.
En su discurso del 20 de octubre de 1962 a las Organizaciones Juveniles Revolucionarias de Cuba, el guerrillero Guevara concluye, una vez más, en la importancia del pensamiento político para la revolución: “Hoy la defensa del país sigue ocupando el primer lugar de nuestros desvelos. Pero no debemos olvidar que la consigna que guía a los Jóvenes Comunistas (el estudio, el trabajo y el fusil) está íntimamente unida entre sí, que no puede haber defensa del país solamente con el ejercicio de las armas (…) El estudio a todos los niveles es también hoy una tarea de la juventud”.
Fuente:Caras y Caretas

martes, 10 de octubre de 2017

Endeudar y fugar

Toda política económica requiere ineludiblemente una fuente de financiamiento. El gobierno de Cambiemos no es una excepción ya que el financiamiento del ajuste económico que está llevando a cabo la encuentra en el endeudamiento externo. Ello implica un giro copernicano respecto al gobierno anterior en tanto su política económica se sustentaba en los recursos internos que, entre otras cuestiones, le permitió llevar a cabo un notable desendeudamiento externo. Pero ese financiamiento de Cambiemos no es distinto al que prevaleció desde la última dictadura militar y que colapsó en la gran crisis de fin de siglo.  
Una reciente publicación del Área de Economía y Tecnología de la Flacso y la editorial Siglo XXI se ocupa de analizar el endeudamiento y la fuga de capitales desde la dictadura a la actualidad (“Endeudar y fugar. De Martínez de Hoz a Macri”). Sobre esa base es posible comparar con una misma metodología el comportamiento de ambas variables en el primer año de Cambiemos respecto a las últimas cuatro décadas. Con tal finalidad en el gráfico se presenta el incremento anual de la deuda externa pública en dólares constantes de 2016. 
Así, se puede constatar que el endeudamiento externo de 2016 es inédito ya que no sólo va en el sentido contrario al seguido por el gobierno anterior sino que al llegar a 43,6 mil millones supera largamente los picos de endeudamiento anual alcanzados desde 1976. En efecto, es prácticamente el doble del endeudamiento estatal contraído durante la guerra de Malvinas en 1982 (21,4 mil millones de dólares) y más elevado que el de 2003 cuando llegó a 19,2 mil millones de dólares de 2016 como resultado del salvataje al sistema financiero y la asistencia a las provincias en el marco del agotamiento de la valorización financiera y la crisis de la Convertibilidad. Es apropiado destacar que se trató de los dos momentos de mayor endeudamiento externo desde 1976 y que ambas instancias, por distintos motivos, fueron contemporáneos a profundas crisis económicas, políticas y sociales.    
El proceso de endeudamiento bajo la administración macrista no se detuvo en ese año ya que el último dato disponible indica que la deuda externa pública creció en términos netos en 14,4 mil de millones de dólares en el primer trimestre de 2017. Es decir, que en un año y un trimestre del gobierno de Cambiemos el incremento de la deuda externa alcanza a 58 mil millones de dólares, lo cual no está demasiado lejos de toda la deuda externa contraída durante la dictadura militar (78,8 mil de millones entre 1976 y 1983) a valores de 2016. 
Este nuevo endeudamiento no estuvo orientado a financiar proyectos de infraestructura o a sustituir importaciones, sino que tuvo una finalidad similar a la que experimentó durante la valorización financiera: sólo una parte minoritaria estuvo destinada a incrementar las reservas, ya que la mayor parte se dedicó a enfrentar obligaciones externas –entre las que se cuenta el pago a los fondos buitre–, a cubrir parte de un creciente déficit fiscal y sustentar las divisas provenientes de la fuga de capitales al exterior.
La fuga de capitales locales al exterior alcanzó a 11,7 mil millones de dólares en 2016, lo cual implica un crecimiento de más del 50 por ciento respecto al registro de 2015 y 2014. Se trata de un volumen que, medido a valores de 2016, es similar al promedio anual del ciclo kirchnerista (11,6 mil millones), inferior al promedio del decenio de 1990 (13,8 mil millones), y superior tanto al septenio 1983-1989 (4 mil millones) como a los registros de la última dictadura militar (10,4 mil millones de dólares a valores actuales). 
No debe soslayarse que el monto de la fuga de capitales en 2016 se vio morigerado por el impacto del blanqueo de capitales (ingresaron en forma líquida al país 7,5 mil millones depositados en cuentas bancarias con obligación de permanencia por 6 meses) y obviamente por las elevadas tasas de interés de las Lebac. 
El actual gobierno puso en marcha un mecanismo de valorización financiera interna, es decir en pesos, pero con altos rendimientos en dólares dada la estabilidad del tipo de cambio (con el reaseguro del dólar futuro). Se trata de una modalidad similar a la valorización financiera del período 1976-2001 pero con peculiaridades propias. En ese entonces, lo central era el diferencial positivo de la tasa de interés local respecto a la vigente en el mercado financiero internacional. Bajo la administración de Macri se asiste a una sumamente elevada tasa de interés local fijada directamente por el Banco Central mediante las Lebac y la combinación entre la estabilidad del tipo de cambio y el mercado del dólar futuro. De esta manera, la persistente valorización financiera de capital conllevó un notable incremento del stock de Lebac, que al 31 de julio superó en un 12 por ciento a las reservas internacionales y a la base monetaria. 
Se expresa así el escaso margen de maniobra que tiene el actual planteo económico para evitar que los inversores privados dolaricen sus carteras y presionen aún más sobre el tipo de cambio. Se trata de una encrucijada generada por la propia política económica cuya resolución no se avizora con claridad pero todas las alternativas posibles coinciden en un punto: suponen situaciones críticas. 
* Investigadores del Area de Economía y Tecnología de la Flacso.

Fuente:Pàgina/12

lunes, 9 de octubre de 2017

Intelectuales siglo XXI



Imagen: Joaquín Salguero
En La Tempestad, Shakespeare incluyó una figura de intelectual: Ariel. Criatura del aire, sin vínculos con la vida material y sin ataduras de clase, para Aníbal Ponce –en Humanismo burgués y humanismo proletario– es un humanista, “mezcla de esclavo y mercenario”, que ha conseguido alejarse del “trabajo de las manos”. Frente a la tradición intelectual arielista, en la Argentina y en América Latina del siglo XXI, deberíamos recuperar la tradición de Calibán. Un/a intelectual a lo Calibán –otro personaje shakespeareano–, que simboliza la concepción colonial del “otro”: “primitivo”, “bárbaro” y diversamente pigmentado. 

El repugnante “monstruo rojo”, dice Shakespeare. ¿Qué estoy tratando de sugerir? Que deberíamos poder poner en diálogo y tensión las figuras de Ariel y Calibán para forjar al/a intelectual del siglo XXI latinoamericanx y específicamente argentinx. Un/a intelectual que entre al claustro para salir permanentemente de él con el objetivo de intervenir en el mundo, del cual –por otro lado– resulta imposible sustraerse. Que pueda y sepa contrapuntear ocho horas de biblioteca con otras tantas de plaza. O, para decirlo de otra manera, que se hamaque entre la historia (el contacto con el pasado) y el presente. De lo universal a lo temporal. Teoría junto a un apasionado sentido del presente, con todas las urgencias que éste reclama. Esto puede ser fraseado también con la ecuación: trabajo de especialista + militancia (militamos para defender la vida como forma de la acción; para salir de nuestra zona de confort), para enfatizar la responsabilidad, el compromiso y el pensamiento dirigidos a las sociedades de las que somos contemporánexs. En definitiva, ese/a intelectual nuevx debería contrapuntear universidad con situación, que es lo mismo que decir universalidad + pensamiento situado (ya que pensamos en situación y dentro de una situación). De otro modo: distancia y conexión. Distancia de las élites –políticas o del discurso– y proximidad con las turbulencias populares. Esto, en permanente antagonismo con las fuerzas conservadoras, para recrear un nuevo orden de cosas. Un orden futuro y un orden –lo más rápido posible– presente que, a falta de una categoría mejor, podemos nombrar como socialismo. Una sociedad sin clases, sin una CEOcracia dirigente, una sociedad sustraída a la explotación capitalista y a la opresión de las grandes mayorías por parte de las derechas latinoamericanas, que si hacen algo es negar y atacar la vida del campo popular.

Las tareas que emprende el macrismo en la Argentina y las tareas que emprende la derecha en los distintos parajes de América Latina son extremadamente complejas. Cada día profundizan la conflictividad social. En la Argentina estamos frente a una democracia cada vez menos democrática, una democracia cada vez más limitada, cada vez menos probable, cada vez menos creíble. Una democracia restringida y muy limitada al acto electivo. Un régimen: careta democrática para un funcionamiento que pivota alrededor de Gendarmería, la violencia como solución de cualquier conflicto. De hecho: ¿dónde está Santiago Maldonado (y dónde estamos nosotrxs cuando nos hacemos esta pregunta)? Por eso es necesario e imperioso un cuerpo de intelectuales que asuma una función estratégica. Un cuerpo que ponga a disposición de la comunidad su propio saber. ¿Con qué objetivo? Desnudar los entramados que los poderes fácticos, que los medios de comunicación convencidos, que los medios de comunicación a sueldo, nos ponen delante todos los días. Un cuerpo de intelectuales que no desdeñe la militancia. Que a través de la enseñanza, la oración, la escritura, la intervención pública logre articular una capacidad perceptiva y una imaginería contrarias a los relatos de poderes que temen y atacan la vida del campo popular. Un cuerpo que logre dotar a las grandes mayorías latinoamericanas de modelos, de criterios de estimación y de símbolos que oponer a los relatos de los poderes fácticos que en la Argentina se encarnan en Macri, en Brasil en Temer, en Paraguay en Cartes, en Venezuela en la derecha proimperialista, etc. Un cuerpo de intelectuales dispuesto a trabajar para articular esquemas de sensibilidad. Con esto me refiero a la función de dar forma a valores emancipatorios y a potencialidades alternativas que ya están en la vida social de las grandes mayorías. Me refiero a un trabajo que tenga por objetivo cruzar el sistema central de valores encarnado en los discursos mediáticos y en las políticas excluyentes que padecemos a diario. Como intelectuales, debemos dar forma, subrayar, enfatizar esos valores emancipatorios y esas potencialidades alternativas. Las fuerzas políticas que los encarnan están presentes en la Argentina. Lo imperioso es fraguar un Frente de liberación nacional y social, en tanto materialización de la unidad de las fuerzas populares, despojadas (hasta dónde sea posible) de sectarismos, con una función de defensa/resistencia y sobre todo de avanzada, con programa político amplio, premisa de las transformaciones sociales necesarias, y en cuya órbita lo/a/s intelectuales del siglo XXI puedan situar su trabajo, como forma de la acción colectiva y la cooperación.
* Universidad Nacional de General Sarmiento / Conicet.

Fuente:Pàgina/12